quarta-feira, 16 de abril de 2014

Conto #1 - O Assassino e seu Assassino


Noite de verão, o ventilador estava ligado, apontado para a cama, as cobertas espalhadas pelo chão, o suor escorrendo pela face. Ele estava deitado, rolava na cama, de um lado para outro. Seus olhos fechados tremiam, suas mãos agarravam o lençol com força, seu corpo tremia.
Caminhava dentro de uma indústria, estava um pouco escuro e quente, podia ouvir o som de caldeiras. Vapor quente saia das tubulações enferrujadas, ouvia o ranger dos tubos e dos canos, ouviu um apito de caldeira e assustou-se.
Sentia medo de estar ali. Tinha a sensação de que algo caminhava à espreita, esperando o momento exato para atacar. Não sabia quem e nem o porquê, só sabia que havia alguém lhe seguindo.
Sua respiração pesava, tudo saía e entrava em foco, sua visão foi escurecendo e suas pernas cederam, caiu no chão fétido da fábrica. Tremia por inteiro. Sentia sua vida sendo sugada, tentou olhar em volta, viu a sua frente pés, olhou para cima e viu um rosto com várias cicatrizes e cortes. Viu olhos frios olhando para ele.
Uma mão o agarrou pelo pescoço e suspendeu no ar, tentou gritar, mas sua voz não saia, nem mesmo um grunhido. Tentou chutar, mas não sentia suas pernas se moverem. Era o fim e nada mais.
Viu na mão esquerda de seu agressor; uma faca velha, enferrujada, ensanguentada. Sentiu-a penetrar a pele, depois a carne, sentiu a dor percorrer o corpo, seu lado sangrava. Não conseguiu gritar, tentou se sacudir para se soltar, em vão.
O homem lhe desferiu mais um ataque, agora na barriga, sentiu a faca entrar e sair de dentro de si. Sentia o sangue sair e seu corpo gelar.
O homem o jogou no chão, sentiu o pé de seu agressor apertá-lo forte contra o chão frio. Uma nova dor surgiu, agora em seu peito. A faca atravessava, uma dor aguda tomou conta de si. Tremeu por inteiro, lágrimas de desespero escorreram por sua face. Sentia seu coração romper quando a faca saiu.
Abriu os olhos, estava em sua cama, as cobertas espalhadas, o lençol todo ensanguentado, olhou para si e deu um grito de horror. Seu corpo estava todo coberto por sangue. Três grandes buracos abertos em seu corpo. Respirou uma única vez e seus olhos se fecharam.
Morto, fora morto pelos seus sonhos vis, pelos sonhos malévolos que ele insistia em alimentar. Morto por objetivos sombrios e por mal uso de poder.
Morto por sua própria face.
Seu corpo rolou para o chão e seu rosto coberto por cicatrizes e cortes parou de frente para o espelho. O assassino matou a si próprio.

6 comentários:

  1. A maldade alimentada em si próprio o levará a caminhos sem volta...assim como o assassino matou aquele que o criou...
    Parabens Tenshi-sama! esse conto é impressionante, não apenas pelo enredo ou escrita, mas por tudo o que ele nos faz refletir...

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    Respostas
    1. Obrigado Lana! Que bom que gostou dele, é um texto antigo mas é um dos que mais gosto.

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  2. Conto excelente!

    Beijão!
    www.enfimepilogo.blogspot.com

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  3. Conto muito bom ! http://gps-da-moda.blogspot.com.br/

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